J.J. Benitez, que assina uma publicação de vários volumes chamada “Operação Cavalo de Tróia”, diz o seguinte a respeito da mesma:
“Muitas pessoas, após a leitura dos volumes de Operação Cavalo de Tróia, fazem-me a mesma pergunta:
´Mas é verdade? Tudo isto é crível?`
E vejo-me obrigado a repetir a única coisa que sei: que tais documentos existem e que – embora alguns se empenhem em afirmar o contrário – a minha imaginação não é assim tão grande.
Desafio quem o deseja a elaborar uma ´Vida de Cristo` tão rica de lógica, audácia e beleza. Não é assim tão simples inventar discursos de Jesus de Nazaré (…) ou esses trinta e dois anos que os crentes designam como ´vida oculta´. Inventá-los, claro, com dados, nomes, acontecimentos e circunstâncias credíveis.
(…) Em suma – e não me cansarei de insistir nisso -, é o coração do leitor que deve ´sentir` se estas narrações acerca de Jesus são ou não credíveis. Que cada qual, portanto, no mais íntimo do seu ser, julgue e decida de acordo com os ditames da sua consciência. Essa nunca se engana…”
Operação Cavalo de Tróia foi o nome dado a uma ultra-secreta operação à Judeia (Israel) do ano 30 da nossa era. Tratou-se de uma viagem no tempo, dentro de uma cápsula, feita por dois cientistas norte-americanos nos anos 70 do século XX, a mando do seu governo, para comprovar com rigor científico esse acontecimento que estruturou os alicerces das diferentes civilizações do nosso planeta e abalá-os até aos nossos dias em particular no mundo dito Ocidental.
Entre os vários objectivos da missão destacava-se estudar a fundo, com meios que envolvia tecnologia de ponta também secreta, o corpo de glória do crucificado que ressuscitou ao terceiro dia e a natureza do homem que estava por detrás dele.
O episódio que aqui se junta foi retirado do livro Operação Cavalo de Tróia III, páginas 278-289, publicado em 1989 pela editora portuguesa Difusão Cultural; diz respeito ao período imediato que se sucedera à crucificação do avatar da Galileia quando este aparecera aos dois viajantes do tempo, com o seu corpo ressurrecto, no monte das Bem-Aventuranças.
“(…) A meia dúzia de passos do Ressuscitado detivemo-nos. Nada tinha mudado no seu aspecto. Os seus profundos olhos cor de mel estavam fixos nos do meu irmão. Vimo-lo esboçar um lento e compreensivo sorriso e, sem dizer palavra, avançou na nossa direcção. O meu irmão estremeceu. Mas, deslumbrado diante da majestosa e serena figura daquele Homem, não se moveu. E o Mestre, levantando a mão, enxugou o suor que inundava a fronte e as têmporas do meu desconcertado amigo com a borda da manga esquerda. A emoção e o agradecimento foram certamente tão fortes em mim como em Eliseu. Então, voltando-se para mim, disse em tom de carinhosa censura:
− Só nosso Pai, Jasão, é o mais sublime…
E dando meia volta foi sentar-se sobre a erva, voltado para a distante Nahum. Entreolhámo-nos. Eliseu, sem poder crer no que acabava de escutar. Quanto a mim, permanentemente perplexo diante da força daquele Ser. A seguir, chamando-nos pelos nossos verdadeiros nomes, convidou-nos a que nos sentássemos a seu lado. Eu obedeci de imediato. O meu irmão, porém, mudo e trémulo, continuou de pé. Os seus olhos estavam presos nas moitas de erva acabadas de pisar pelo Rabi. E Jesus, repetindo o convite com ambas as mãos, foi ao encontro dos seus pensamentos:
− Os espíritos, se é isso o que crês que eu sou, não pisam a erva. Também tu… − e aqui aparece o verdadeiro nome de Eliseu – deves aprender a confiar. E em verdade vos digo que chegará o dia em que não duvidareis e, do mesmo modo que os meus mensageiros de hoje, também vós (de outra maneira e em outro tempo e lugar) proclamareis a boa nova do Reino.
− Nós?
O Mestre – e nem é preciso dizê-lo, eu próprio − alegrou-se ao ouvir a voz do meu companheiro. Com certo receio, acabou por se instalar à minha esquerda. Jesus contemplou-nos como se fôssemos duas crianças ansiosas por aprender.
− Porque julgais que estais aqui?
A questão colocada pelo Mestre parecia óbvia. A sua interpretação, contudo, nem tanto.
− …Digo-vos que, nos universos do nosso Pai, nada que envolva o domínio do espírito fica sujeito ao acaso. Tudo é obra do amor, da sabedoria e da misericórdia.
− Não te compreendemos, Senhor.
− Não tardareis a fazê-lo…
O Ressuscitado assinalou com os seus olhos a posição do berço. Eliseu e eu voltámos a olhar-nos, desarmados.
− …Quando fordes devolvidos ao mundo e ao momento de onde vindes, uma só realidade brilhará nos vossos corações: ensinai aos vossos semelhantes, a todos, o que vistes, ouvistes e experimentastes a meu lado. Sei que, à vossa maneira, acabareis por confiar em mim. Sei também que não temeis os homens, nem o que eles possam representar, e que proclamareis a minha Verdade. E muitos outros, graças ao vosso esforço e sacrifício, receberão a luz da minha promessa.
Ao ouvi-lo tive a nítida sensação de que estava a par do nosso projectado terceiro ´salto` no tempo. Mas acho que devo ser fiel aos acontecimentos e a mim próprio. Naquele momento, ao ouvir as suas serenas e também ´proféticas` palavras, caí de novo na tentação da dúvida. Sei-o bem. Ele estava ali diante de mim. O seu corpo, banhado pelo sol, projectava a natural e correspondente sombra; ocupava um volume no espaço; sob o seu peso as flores e a vegetação tinham ficado pisadas. Tudo parecia normal. E no entanto não o era. Não podia sê-lo. Aquele ´corpo`, tal como em ocasiões anteriores, tinha surgido do ´nada`. E isto, científica e racionalmente, era pouco menos que impossível. Acabrunhado por semelhante incerteza, as minhas ideias não faziam sentido. Tinha de encontrar uma explicação. Como podia aparecer e desaparecer numa fracção de segundo? A física moderna − também sei disso – conseguiu criar (?) matéria a partir da energia 1. E embora as quantidades sejam minúsculas, o campo é prometedor. Significaria isso que ´alguém`, em alguma parte, seguia o mesmo processo no momento de formar o ´corpo` que tínhamos diante de nós? Custava-me a aceitá-lo. A energia mínima necessária para que surja um par de partículas elementares é de duas vezes a massa em repouso de tais partículas elementares, pela velocidade da luz ao quadrado. Por outras palavras: 1.02 MeV ou 10 electrões-volts. Numa palavra: o consumo energético, tratando-se não já de um par de partículas mas de todo um corpo, seria tão brutal que – insisto −, do ponto de vista da ´nossa` física, é inconcebível. Tinha de haver outra fórmula. Mas qual?
Jesus aguardou que as minhas torturadas reflexões chegassem ao inevitável beco sem saída em que me encontrava. Observou-me com atenção e eu, dando-me conta disso, corei como um idiota. Ainda tentei desculpar-me. Que absurdo! Porque haveria de justificar-me perante um Ser que ´lê` os pensamentos e que, sobretudo, é capaz de uma compreensão infinita?
Moveu a cabeça, como se estivesse perante um subordinado que não tivesse emenda. E acertou. Mas, condescendente, aliviou em parte a minha casmurrice:
− Porque te atormentas?
Eliseu, que logicamente não podia saber das dúvidas que me assaltavam naqueles instantes, fez-me um sinal com a cabeça, pedindo-me um esclarecimento do que se passava. Não me atrevi nem a respirar.
− …Tem fé. Já te disse: também as criaturas ao meu serviço têm um ´código` – sublinhou esta palavra – que, tal como vós, não podem desrespeitar. Lembra- te das minhas palavras a Lázaro:
´Meu filho, o que te sucedeu, acontecerá de igual modo a todos os que creiam no Evangelho, mas ressuscitarão sob uma forma mais gloriosa. Eu sou a ressurreição… e a VIDA!`
Isto que vedes e que podeis tocar – Jesus estendeu as palmas das suas mãos – não é fruto de fantasias nem de milagres. Vede-o bem! É uma das formas de que desfruta toda a criatura mortal dos mundos do tempo e do espaço, uma vez vencido o sono da morte…
O meu irmão discorreu rápido e, com invejável espontaneidade, interrompeu-o:
− Posso…?
O Ressuscitado, como se já esperasse a pergunta, estendeu a sua mão direita – a mais próxima de Eliseu −, convidando-o a comprovar. Não sei se voltei a ruborizar-me. Eu teria sido incapaz de semelhante audácia. Mas aquele engenheiro de telecomunicações e perito em computadores era uma caixinha de surpresas. Ajoelhou-se em frente do Mestre e, tomando a mão entre as suas, pressionou, apalpou, acariciou, cheirou sem o menor pudor e, ante a divertida expressão do Homem, tomou-lhe o pulso. Passados dois minutos, pálido como um morto – e talvez mais morto que vivo −, enfrentou o olhar do Ressuscitado. Vi-o franzir o sobrolho, como que a procurar uma explicação. Lamentavelmente, não havia. Ou melhor, tinha de haver, embora não estivesse ao alcance das nossas pobres e limitadas mentes. Uma ´explicação` que não contradizia as leis universais da física e que, todavia, nós desconhecíamos. Foi toda uma lição de humildade para a orgulhosa Ciência que acreditávamos representar.
De repente, sem palavras – que necessidade havia delas! -, o meu companheiro inclinou-se e beijou a mão que ainda retinha e que acabara de explorar. Foi espontâneo. E devo anotá-lo, pelo que foi e pelo que representou. Os olhos de Jesus humedeceram-se. Santo Deus! Aquele Ser era capaz de emoções! Agora, esta dedução parece- me ridícula.
− Satisfeito?
Eliseu, perplexo, deixou-se cair sobre a relva. E, como única resposta, disse que não com a cabeça. Logo a seguir, porém, suponho que por pura cortesia, rectificou, assentindo em silêncio.
− Não estranheis – continuou Jesus −, se notardes que esta forma carnal pouco ou nada tem a ver com a que conheceis. Lá, onde fordes devolvidos à verdadeira vida, as limitações que vos constrangem aqui em baixo não têm sentido. Lá sentireis outro tipo de fome, outro tipo de sede, outro tipo de sentimentos e necessidades. Repito-vo-lo: não vos atormenteis. Agora é muito difícil que o homem mortal possa alcançar as estrelas. Deve bastar-vos saber que elas estão lá e que, na devida altura, as estrelas – e não só… − farão parte do vosso conhecimento. A ´corrida` para o Pai Universal é prodigiosamente reveladora. Nada ficará oculto. Não esqueçais que os vossos conhecimentos são finitos e que toda a compreensão, por parte das criaturas mortais, é relativa. Qualquer informação, mesmo a que procede de fontes elevadas, é só relativamente completa, localmente exacta e pessoalmente verdadeira. Apenas isso. Os factos físicos podem ser uniformes, mas a verdade é uma realidade viva e flexível na filosofia do Universo. As pessoas que evoluem como vós o estais agora a fazer só parcialmente são sábias e relativamente verídicas nas suas mensagens. Só podem ter certezas dentro dos limites da sua experiência pessoal. Algo que pode parecer certo num lugar, poder ser relativamente verdadeiro noutro segmento da criação. A verdade divina, a verdade final, é uniforme e universal. A história das criaturas espirituais, tal como é contada por numerosas individualidades originárias de esferas diversas, pode mudar por vezes nos pormenores. Isso deve-se à relatividade na plenitude dos seus conhecimentos e da sua experiência pessoal, assim como à extensão e amplitude dessa experiência…
− Parece-me que te contradizes, Senhor…
O comentário de Eliseu deixou-me atónito.
− A vida e as vicissitudes dos seres humanos – argumentou com frieza – opõem-se a essa ideia de soberania universal de Deus…
O Mestre aceitou o repto.
− O plano do nosso Pai é fruto do amor e por consequência, perfeito. E a tal ponto é assim que as criaturas evolutivas, como vós, vêem-se necessariamente assaltadas por toda a espécie de contingências, apenas para seu benefício.
− Contingências? − replicou o meu irmão com amargura. – Eu empregaria um termo mais duro.
E antes de o Rabi abrir de novo a boca, atirou, inclemente:
− Que me dizes do desespero, da mentira, da injustiça?…
O Mestre levantou as mãos, pedindo-lhe calma.
− Vejamos: a esperança é desejável?
Assentimos em uníssono.
− Pois bem, então é necessário que a existência humana se apresente permanentemente confrontada com a incerteza e com a insegurança.
− E que nos dizes da mentira?
− Dizei-me: é bom o amor à verdade?
Nem esperou a nossa resposta. Era óbvia.
− …Nesse caso, é preciso que o homem cresça num mundo onde o erro esteja presente e a falsidade seja uma companheira de todos os dias.
− Que podes dizer diante da decepção?
− Exactamente o mesmo: é desejável a força de carácter? Sendo assim, a Humanidade deve ser educada num ambiente que a obrigue a enfrentar duras provas e a reagir perante a decepção.
As respostas tão taxativas, não desarmaram o mordaz Eliseu.
− E que podes dizer sobre a dor? Já a experimentaste amplamente. Será mesmo necessária? Será justa?
O rosto do Galileu endureceu-se levemente.
− Tu desejas a felicidade, não é assim?
− Mais que qualquer outra coisa neste mundo! − exclamou o meu irmão, recuperando a combatividade.
− Então – sentenciou sem possibilidade de apelo – deverás viver num mundo em que a alternativa da dor e a probabilidade do sofrimento sejam possibilidades experienciais sempre presentes. As tribulações são a melhor fonte de sabedoria para os mortais. Em verdade, em verdade vos digo que não se pode captar a realidade espiritual se antes a não tivermos sentido pela experiência. E muitas dessas verdades só se intuem e compreendem no meio da adversidade… Quanto ao meu próprio sofrimento, em nada se diferenciou do de muitos outros mortais. Quando alguém sucumbe por causa da dor, eu, ou os meus anjos, estamos lá…
− Para quê?
A ingenuidade deve ter comovido o Mestre. Sorriu-lhe e, levantando o rosto para o céu azul, replicou:
− Ainda que o enfermo não o perceba claramente, com o único fim de lhe lembrar que, como eu fiz, deve abandonar-se nas mãos do Pai. Já vo-lo disse: nada no reino do nosso Pai é obra do acaso.
− O Pai! − desta vez tomei eu a iniciativa. − Falas tanto do Pai… Mas, na verdade, Mestre, agora que ninguém nos escuta, quem é o Pai?
Jesus soltou uma gargalhada.
− Crês realmente que ninguém nos escuta? Como duas crianças assustadas, Eliseu e eu olhámos à nossa volta.
Sem perder o esplêndido sorriso, o Senhor moveu a cabeça, rindo-se perante a nossa candura.
− Tu amavas o teu – disse com aquele especial brilho que irradiava quando se referia ao Pai. − Isso permite-te aproximar-te um pouco, só um pouco, da magnífica realidade do nos-so ver-da-dei-ro Pai.
Intencionalmente, foi separando as sílabas.
− O Pai Universal não é um ser humano, com longas barbas brancas, como por vezes o pintam as suas criaturas. Mas o exemplo é válido. Ele é o Deus de toda a criação. A ´causa-primeira-central` de todas as coisas e de todos os seres. Deveis pensar n´Ele como um criador. Depois como um controlador. Por último, como um apoio infinito. A verdade sobre o Pai Universal começou a despontar sobre a Humanidade quando o profeta disse:
´Tu, Deus, estás só e ninguém existe a teu lado. Tu criaste os céus e os céus dos céus com todos os teus exércitos. És tu quem os preservas e os controlas. Pelos Filhos de Deus é que os universos foram feitos. O Criadorcobre-se de luz como de uma roupagem e estende os céus como um manto.`.
Todos os mundos iluminados reconhecem e adoram o Pai Universal, o autor eterno e o sustento infinito de toda a criação. Em inúmeros universos, criaturas dotadas de vontade empreenderam a longa, muito longa viagem para o Paraíso e a luta fascinante da aventura eterna para alcançar a Deus, o Pai. As criaturas que conhecem Deus têm apenas uma suprema ambição, um único e ardente desejo: o de parecer-se no seu próprio mundo ao que Ele é em sua perfeição paradisíaca personalizada…
− Mundos iluminados, dizes? − Eliseu, atento aos mínimos pormenores, desceu para um plano mais prosaico. − Será que existe vida inteligente e organizada fora da Terra?
Percebi que Jesus hesitava. Apanhou uma mão-cheia daquela fresca erva e, arrancando-a pela raiz, mostrou-lha, perguntando:
− Dizei-me: o que é mais importante: isto ou vós?
Nenhum de nós se atreveu a responder. Foi ele quem o fez por nós:
− Diante do nosso Pai, vós, sem lugar para dúvidas. Credes então que o Pai pode permitir que a erva seja mais numerosa que a Sua prole?
− Não respondeste à minha pergunta, Senhor: quem é o Pai?
− Já respondi, Jasão…
Acariciou os verdes e sumarentos talos, mordiscando um deles.
− …Mas vou propor-vos um exemplo. Há milhares de milhões de tempos, o primeiro Inteligente que alcançou a consciência de si mesmo entrou no não-tempo, depois de experimentar um processo que também durou milhares de milhões de tempos. No próprio instante da transição para o não-tempo, soube que, desse modo, iniciava um longo caminho de realização absoluta de si mesmo que igualmente se prolongaria por milhares de milhões de tempos, à espera de que as humanidades a caminho chegassem a fazer parte d´Ele. E aquele Ser pensou:
´Eu serei a vossa meta, mesmo que me ignoreis. Eu serei o vosso propósito, mesmo que apenas suspeiteis da minha existência. Eu serei a vossa imagem quando crerdes em mim. Eu só serei Deus quando vós fordes um todo comigo: quando chegardes a ser Deus comigo. E juntos voltaremos a iniciar um processo para além do não-tempo, pois o tempo terá perdido a sua razão de ser.`
Quem isto escreve – devo confessá-lo humildemente – não conseguiu assimilar esta parábola.
− E tu que nome dás ao Pai? − Eliseu não recuava diante de nada. Porque, segundo creio, tu também és Deus… Como entender esta charada? Sendo tu Deus, porque é que o Pai é mais que tu?
Mas o Mestre também não era dos que desistiam…
− Responde primeiro a uma pergunta: crês que serias capaz de beber toda a água do yam?
− Não, Mestre…
− Pois o nosso Pai é um lago que se esqueceram de cercar… Não pretendes compreender a natureza de Deus: empenha-te em senti-la! Os nomes que as criaturas lhe atribuem dependem da forma como concebem o Criador. A ´causa-primeira-central` do Universo nunca se revelou pelo seu nome: só pela sua natureza. Ao Pai pouco se lhe dá como o chames. Ele não impõe nenhuma forma de reconhecimento, nem de culto oficial nem de adoração servil às criaturas dotadas de inteligência e vontade. O importante é que, no mais profundo dos vossos corações, o reconheçais, o ameis e o adoreis… voluntariamente. O Criador recusa exercer uma prepotência no livre arbítrio espiritual das suas criaturas materiais e, muito menos, forçá-las à submissão…
− Mas as religiões…
− Sabeis qual é o dom mais precioso do homem? − interpelou-nos, pousando o seu penetrante olhar ora num ora noutro de nós, alternadamente.
− A liberdade – adiantei eu não com muita segurança.
− A consagração amorosa da vontade humana à do Pai. Com efeito, meus filhos, é o único dom válido que o homem pode oferecer a Deus.
− Queres então dizer que não podemos oferecer mais nada?
− Fazer a vontade do nosso Pai é tudo. Nele, os humanos vivem, movem-se e têm a sua existência. Esse é o verdadeiro culto, que satisfaz plenamente a natureza do Pai Criador, dominado pelo amor.
Eliseu voltou à carga.
− E tu, Mestre, como Lhe chamas?
− Já te disse: Abbá.
Aquela palavra aramaica significava de facto paizinho: o mais carinhoso dos vocábulos que, por certo, nunca era utilizado pelos judeus quando se referiam a Deus.
− …Em espírito – continuou – todos os nomes atribuídos a Deus têm idêntico significado, ainda que, em palavras e símbolos, cada uma das denominações exprima o grau e a profundidade com que o Pai é entronizado no coração das Suas criaturas…
− E por lá – o meu irmão apontou para o céu −, como é que Lhe chamam?
O Rabi sorriu de novo.
− Junto do centro do universo dos universos, o Pai Universal é geralmente conhecido sob os nomes que vêm a significar a ´Causa Primeira`. Mais além, no exterior, nos universos do espaço, os termos empregados para designá-lo coincidem com o de ´Centro Universal`. Mais longe, na criação estrelada, é conhecido por ´Primeira Causa Criadora` e ´Centro Divino`. Numa constelação próxima da vossa, Deus é chamado ´Pai dos Universos`. Noutra: ´Apoio Infinito`. A oriente recebe o nome de ´Divino Controlador`. Também foi qualificado como o ´Pai das Luzes`, o ´Dom da Vida` e o ´Único Omnipotente`.
O ´universo dos universos`, ´os universos do espaço`, a ´criação estrelada`… Aquilo escapava ao meu reduzido conhecimento. Teria desejado perguntar-lhe mais coisas sobre tão magna citação, mas, com franqueza, faltaram-me as forças. Eliseu, pelo contrário, continuava desperto e disposto…
− Antes mencionaste o Paraíso. Existe na realidade ou trata-se de outra bela metáfora?
− Vós associai-lo a um lugar cheio de felicidade e não estais equivocados. Mas enquanto permanecerdes sujeitos à carne, jamais podereis aproximar-vos sequer do seu magnífico e imenso esplendor.
Eliseu, que não conhecia o desânimo, insistiu:
− Atrever-te-ias a defini-lo em poucas palavras?
− Centro de gravidade absoluta. Ou, melhor dizendo, ilha nuclear de luz.
− Meu Deus! − exclamou o meu irmão. − Então é verdade!…
E antes de Jesus prosseguir, foi directamente ao assunto:
− Muitos seres humanos pensam que, ao morrer, entrarão logo no Paraíso. Estão enganados?
− Querido amigo, o homem é como uma criança: possessivo, inconsciente e ligado apenas ao mundo próximo que o rodeia. Já te disse que a corrida para a Perfeição, para o Paraíso, ou, se preferires, para o nosso Pai, exige uma longa preparação noutras ´moradas`…
− Então, quando veremos Deus face a face?
− Por vezes – lamentou-se o Ressuscitado – pareceis cegos… Porque O procuras fora se Ele te ofereceu parte da Sua essência?
O meu companheiro – a julgar pela expressão do seu rosto – não o compreendeu.
− Ele disse:
´Vós não podeis ver o Meu rosto, já que nenhum mortal pode ver-Me e continuar vivo.`.
Pois bem, eu digo-vos que nenhum ser material poderia contemplar o espírito de Deus e preservar a sua existência terrestre. É impossível aos grupos inferiores de seres espirituais e a todas as ordens de personalidades materiais captar a glória e o resplendor espiritual da presença da personalidade divina. A luminosidade espiritual dessa presença do Pai é uma luz que nenhum mortal pode suportar, que nenhuma criatura material viu ou poderá ver.
− Em resumo – deduziu Eliseu na sua honesta simplicidade −, depois da morte não O veremos…
− Meu filho, na imensidade da criação, Deus não trata directamente com as personalidades dotadas de vontade. Fá-lo de outras maneiras: como te disse, ´instalando-se` no mais íntimo de cada ser e através de um vasto circuito de personalidades celestes.
− Vês bem o alcance do que acabas de dizer?
Suponho que aquela perplexidade no rosto do Mestre foi simulada.
− Se não entendi mal − prosseguiu Eliseu −, Deus ´instala-se` em cada um de nós…
O Senhor não tinha pressa em responder. Fez uma pausa de alguns segundos, multiplicando assim a ansiedade do meu irmão.
− Essa, pequeno curioso, é a maior verdade que poderás ouvir dos meus lábios.
E deslocando os seus olhos para a minha pessoa, acentuou:
− O teu irmão sabe-o bem: a falsidade não pode alojar-se na minha alma. E eu digo-te que cada criatura mortal dotada de inteligência e vontade recebe, directamente do Pai, uma ´centelha` d´Ele mesmo, enviado do Paraíso e que vive no órgão mental dos mortais, ajudando-os a desenvolver a sua alma imortal, destinada a sobreviver por toda a eternidade. A presença deste ´ajustador divino` (poderíamos qualificá-lo assim) na mente humana é revelada graças a três fenómenos experienciais: a aptidão intelectual para conhecer Deus, a necessidade espiritual de O encontrar e o intenso desejo de toda a personalidade de se parecer com Ele.
Foi como uma faísca. De repente, julguei entender a famosa frase bíblica: ´Feito à Sua imagem e semelhança`. E o Mestre reparando na minha descoberta, voltou-se para ´mim` com vivacidade:
− Assim é, Jasão! E em verdade te digo que em todas as vossas aflições, Ele se aflige. Em todos os vossos triunfos, Ele triunfa em vós e convosco. O Seu divino espírito é realmente uma parte de vós, embora a imensa maioria dos humanos nunca chegue a descobri-lo.
− ´Ajustador divino`… Gosto da tua definição! − Eliseu avesso a rodeios, perguntou à queima-roupa:
− Sendo como dizes, Senhor, se cada ser humano recebe essa ´centelha` do próprio Deus, que sucede com aquelas criaturas que não chegam a nascer? Não ignoras que ontem, hoje e amanhã, o aborto provocado é uma realidade…
Ao mencionar a palavra ´aborto`, o rosto do Mestre ficou sombrio. O meu irmão, conhecendo-o como eu o conhecia, deve ter pensado que o tinha ´apanhado`…
− Olha à tua volta. Que vês tu?
− Não sei…, campos florescentes, belas colinas, um lago…
− Diz-me agora: crês que tudo isso é resultado do acaso?
Eliseu não disse nada. Tal como eu, tinha as suas dúvidas.
− Já vo-lo repeti: toda a Criação é obra do nosso Pai. O maarabit não sopraria, as searas não amadureceriam e as tilápias não alimentariam os homens se Ele não o tivesse desejado. Tudo obedece a uma ordem, baseada no amor. Qualquer profanação dessa ordem repercute-se no resto. Consequentemente mesmo por puro egoísmo pessoal, as criaturas humanas devem respeitar as leis da Natureza. Acreditais mesmo que o nosso Pai está sujeito ao erro? As Suas leis são fruto do amor. E asseguro-vos que o amor é a única moeda válida no universo, impossível de falsificar…
− Se o Pai é amor – intervim eu –, porque permite o mal?
− O mal, meu atormentado amigo, é conceito relativo. O mal potencial é inerente ao carácter necessariamente incompleto de Deus, como expressão da infinidade e da eternidade limitadas pelo espaço-tempo. O facto do elemento parcial, em presença do total aperfeiçoado, constitui a relatividade da realidade. Em todo o universo, cada unidade é considerada como uma parte do todo. A sobrevivência da fracção depende da cooperação com o plano e a intenção do todo, do desejo sincero e do consentimento perfeito de fazer a divina vontade do Pai. Se existisse um mundo evolucionário sem erro, sem possibilidade de juízos imprudentes, esse seria um mundo sem inteligência livre. No meu universo há mil milhões de mundos perfeitos, com os seus habitantes perfeitos, mas é preciso,que o homem em evolução seja falível, se deseja ser livre de verdade. É impossível que uma inteligência livre e sem experiência seja uniformemente sábia a priori. Mas não confundais erro com pecado. A possibilidade de juízo erróneo só se torna pecado se a vontade humana assume e adopta conscientemente um juízo imoral intencional.
− Sendo assim – acrescentei eu −, crer que as desgraças são enviadas por Deus pode ser uma absoluta estupidez…
− Mais que uma estupidez, Jasão, é uma consequência da cegueira humana. O Deus eterno é incapaz de sentir a cólera ou de castigar os seus filhos. Essas são emoções humanas, vulgares e desprezíveis, indignas de serem chamadas humanas e, muito menos, divinas.
Pelas onze horas da manhã, as primeiras rajadas do vento de oeste – o maarabit – fizeram-se sentir sobre a colina. Os cabelos e a túnica do Homem agitaram-se e, tal como prevíramos, a temperatura ambiente elevou-se notoriamente. Passados poucos minutos, tanto Eliseu como eu começámos a transpirar copiosamente. Ambos nos daríamos conta em seguida de outro fenómeno singular: apesar do sufocante calor, igual para todos, a epiderme de Jesus manteve-se seca e fresca, sem o menor indício de suor. O rosto, pescoço, axilas e palmas das mãos não apresentavam qualquer vestígio de refrigeração cutânea. Ao passo que a escura túnica de Eliseu, ou a minha, acabaram por colar-se aos corpos, a do Galileu continuou solta e seca. Ao longo da conversa, o meu companheiro fez um dissimulado sinal com os olhos, apontando-me a parte superior do cajado, com o claro propósito de se proceder a um ´exame` completo do organismo do Ressuscitado. Reconheço que foi uma falha ou uma negligência. Mas, sinceramente, senti-me incapaz de o ´espiar` naquela altura. As suas palavras interessavam-me muito mais que todas as análises médicas juntas.
Jesus, ao captar a minha silenciosa negativa, agradeceu com um olhar que me tocou profundamente. E aguardou a pergunta seguinte. Era curioso. Nos meus momentos de solidão entretivera-me a levantar toda uma torre de perguntas. Mas agora, frente a Ele, não me ocorria nenhuma.
O meu irmão, de mente mais ágil, esse, sim, estava disposto a ´espremer` o nosso singular interlocutor.
− Porque não nos falas um pouco mais desse Paraíso?
O Mestre encolheu os ombros.
− Fá-lo-ei, se assim o desejais, mas será um pouco como se vós procurásseis fazer compreender aos meus pequeninos de hoje o sentido da vossa missão… Antes disso teriam de conhecer muitas outras coisas.
Suspirou profundamente e, durante uns segundos, entreteve-se – suponho eu – a procurar as palavras adequadas.
− O Paraíso ou a ilha nuclear de luz deriva da Deidade, se bem que não possa dizer-se que seja uma Deidade. As criações materiais não são só uma parte da Deidade: são uma consequência. Poderíamos dizer que sem qualificação especial, é o Absoluto do controlo material-gravitacional, pela ´causa-primeira-central`. Essa imensa ´ilha` cujas dimensões nem sequer poderíeis conceber com a vossa limitada mente humana permanece imóvel. É a única criação estática no universo dos universos. A ilha do Paraíso tem um lugar no universo, mas carece de posição no espaço. Trata-se de uma ilha eterna, origem efectiva dos universos físicos passados, presentes e futuros…
Para quê negá-lo! A meio da explicação tinha voltado a perder-me.
− …O Paraíso é um termo que inclui os Absolutos locais pessoais e impessoais de todas as fases da realidade universal. O Paraíso pode implicar e reunir todas as formas da realidade: Deidade, Divindade, personalidade e energia espiritual, mente ou material. Tudo tem o Paraíso como ponto de origem, de função e de destino, no que se refere ao seu valor, seu significado e sua existência de facto. Mas não confundais. A ´ilha eterna` não é um Criador. É um controlador único de numerosas actividades universais. De um extremo ao outro dos universos materiais, o Paraíso influencia na conduta de todos os seres relacionados com forças, energias e potências. Mas, em si mesmo, é único, exclusivo e isolado nos universos. Não representa nada e nada significa. Não é uma força nem uma presença. O Paraíso é, simplesmente, o Paraíso.
Nem Eliseu nem eu nos atrevemos a formular qualquer comentário. Era impossível. Eu, como sempre aceitei a sua palavra. O Paraíso existe e deve tratar-se de um lugar (?) inenarrável.
− E porque é que todas essas coisas – retorquiu Eliseu com melancolia – não são reveladas claramente? Talvez desse modo os homens encontrassem um verdadeiro sentido para a vida…
− Meu filho, é conveniente que os homens não recebam uma revelação excessiva…
Espantado, quase indignado, Eliseu protestou.
− Isso – prosseguiu o Mestre com absoluta calma − asfixiaria a imaginação. O progresso exige que a individualidade se desenvolva. A mediocridade procura perpetuar-se na uniformidade. Fora do contacto com o Pai Universal, nenhuma revelação pode alguma vez ser completa. Porque o vosso mundo ignora geralmente a origem das coisas, mesmo físicas, julgou-se conveniente dar-lhe, de vez em quando, noções de cosmogonia, mas isso sempre provocou confusões. As leis que regem a revelação limitam grandemente porque proibem, como vos acontece agora a vós, a transmissão de conhecimentos imerecidos ou prematuros. A revelação é uma técnica que permite economizar séculos e séculos de tempo no trabalho indispensável de selecção minuciosa dos erros da evolução, a fim de extrair as verdades adquiridas pelo espírito…
− Mas essas revelações – interveio o meu irmão com nervosismo – ajudariam a Ciência…
O Mestre negou com a cabeça.
− …A revelação não deve engendrar ciência, nem sequer religiões. A sua função é coordenar ambas com a verdade da realidade.
− Mas a Ciência…
− A vossa ciência, como a de todos os tempos, é apenas um espelho, que reflecte a vossa própria imagem cambiante. E dir-te-ei mais: tanto a Ciência como a Religião têm permanente necessidade de uma autocrítica mais corajosa e de uma mais clara consciência da insuficiência dos seus respectivos estatutos evolutivos. Em ambos os campos, os educadores humanos caem com frequência no dogmatismo e num excesso de confiança em si próprios.
O meu companheiro sorriu maliciosamente.
− Tu, Mestre, não pareces muito amante das religiões. Quem o diria!…
− O sectarismo, meu querido filho, é uma doença das religiões institucionais. O dogmatismo é uma escravização da natureza espiritual. É muito melhor ter uma religião sem Igreja, que uma Igreja sem religião.
− Isso interessa-me – sublinhou Eliseu, tirando partido daquela inacreditável liberalidade do Ressuscitado. − Quais são, na tua opinião, os perigos das Igrejas?
− Noutra oportunidade falei disto com o teu irmão. Mas repeti-lo-ei, se é esse o teu desejo. As religiões formalistas tendem à fixação das crenças e à cristalização dos sentimentos; fossilizam a Verdade; desviam-se do serviço de Deus para o da Igreja; lutam entre si e entre os irmãos, em nome do amor, dando origem ao aparecimento das seitas e das divisões; estabelecem autoridades eclesiásticas opressivas; conduzem ao nascimento do falso estado mental aristocrático de ´povo eleito`; mantêm ideias falsas e exageradas sobre a santidade; tornam-se rotineiras e petrificadas e acabam por venerar o passado, ignorando as necessidades do presente…
− Meu Deus! − lamentou-se o meu companheiro. − Mas tu também formarás uma Igreja!
Um pesado silêncio caiu sobre a colina. O Mestre olhou-o com dureza. Por fim, apontando para mim com a sua mão esquerda, respondeu sem rodeios:
− Se não queres ouvir as minhas palavras, ouve ao menos as de Jasão. Quando o Pai permitir que me acompanhes, analisa bem o meu procedimento. Julga então no mais íntimo do teu ser e lembra-te do que acabas de afirmar. É importante que transmitas a verdade. Eu não vim ao mundo para criar Igrejas, mas tão-só para dar testemunho do nosso Pai. A natureza humana é fraca (sei-o bem) e, involuntariamente, a minha mensagem será alterada, surgindo assim uma nova religião… ´a pretexto` da minha pessoa.
Palavras proféticas, as de Jesus de Nazaré…
− E qual é a tua religião?
− Já vo-lo disse: fazer a vontade do Pai. Entregar-se generosamente ao amor e à apaixonante aventura da busca pessoal de Deus. Eu não desejo credos nem tradições que fossilizem a alma humana. Os que aceitaram a minha mensagem jamais serão dogmáticos. São as metas (e não os credos) que devem unir os homens. E a que eu vos revelei é simples e cristalina: chegar ao Pai. Fazer a Sua vontade. Descansar n´Ele.
Não pude conter-me. E saltando por cima das muitas questões que Eliseu guardava ainda no seu insaciável e inquieto coração, interessei-me pelo destino desta caótica Humanidade a que pertenço.
− Em verdade vos digo – sentenciou com os olhos radiantes de esperança – que o futuro do mundo é esplêndido. As tribulações passarão. Chegará o dia em que os homens esquecerão rixas e interesses obscuros. Nesse dia, as nações da Terra, como um só povo, aceitarão a dupla mensagem que vos trago: que o Pai existe e que todos sois irmãos. O vosso destino é a luz e ninguém vos arrebatará esse direito. Então, só então, encontrareis a paz. Para chegar a isso tendes de aprender primeiro a gozar dos privilégios sem abusar deles, a dispor da liberdade como de um delicado recipiente de cristal que convém manejar com toda a delicadeza e a assumir o poder, recusando utilizá-lo para concretizar ambições pessoais. Tais são os indícios de uma ´Humanidade avançada`.
− Então estamos muito longe…
A insinuação de Eliseu ficou no ar. O dispositivo de segurança em torno do ´berço`, projectado para seiscentos pés, tinha detectado um target. O computador central transferiu o alerta, fazendo vibrar a ligação auditiva. Pus-me de pé. Alguém rondava ou se aproximava da colina.
Uma discreta indicação foi o suficiente: o meu irmão compreendeu que ´algo` se passava e, erguendo-se de imediato, olhou em silêncio o extraordinário Homem. Foi um olhar de admiração. Jesus correspondeu-lhe com uma piscadela de olho.
Levantou as mãos e despediu-se com um lacónico: ´Ide, pois…` (…)”.
1 Hoje a nível teórico e experimental, sabe-se que, a partir de um ´quanto` de radiação electromagnética, é possível criar um par de partículas (um electrão e um positrão). Para que isso aconteça, o fotão terá de passar pelas proximidades de um núcleo, de forma que se cumpram os requisitos de conservação da energia e momento desse sistema isolado. (N. do M.)