A Aventura da Vida e da Morte
A passagem do mundo físico para o do astral guarda grande semelhança com uma aventura de canoagem:
– depois de sermos “arrastados“ para outra dimensão, deparamo-nos com a tranquilidade e beleza duma nova paisagem.
(*) monge Satyananda
Alguma vez praticaram canoagem? Canoagem é um dos desportos que provoca maior excitação e sentido de aventura. Reúnem-se alguns amigos num grande barco de borracha, esperando-se que haja alguém que conheça rios, especialmente aquele onde estão. Entram nele e lançam-se à água. No começo, é bem calmo; vai flutuando, é agradável mergulhar a mão na corrente lenta e tranquila. Olhar para o céu cheio de paz. Então, surge uma curva e sentem a corrente um pouco mais forte, carregando sobre a embarcação. Depois, na próxima curva, ouvem um estrondo: os riachos de alta velocidade! Esta é a razão de estarem a praticar canoagem, mas, ainda assim, há um sentimento orgânico de medo do desconhecido nos seus corações. É muito provável que desejem livrar-se disso! Porém, agora, a corrente está a puxar muito rapidamente e não há como desistir. São sugados para a garganta com a sua poderosa e estrondosa turbulência e nada mais há a fazer a não ser deixar que a corrente vos puxe a desfrutar o que está a acontecer. O barco bate de um lado, de outro e gira; recebem jorros de água espumante; então, tão repentinamente quanto começou, termina. Saíram da garganta e ali estão flutuando serenamente de novo, com uma nova vista em torno, novas árvores, novos penhascos e assim por diante.
Passar deste mundo físico de vida mortal para o mundo astral é, de muitos modos, parecido com isso – excepto pelo facto da aventura da vida e da morte levar-nos, através da “garganta” da coluna vertebral e da passagem astral do olho espiritual, para a outra dimensão.
A maior parte das pessoas “flutua” pela vida parecendo não ter consciência de que algum dia vão morrer; acreditam que, de algum modo, serão imortais neste corpo. O assunto é um tabu; ninguém quer pensar nele. Mas Paramahansa Yogananda disse que a dor envolvida primordialmente na morte é psicológica, causada pelo apego. Como dizem as escrituras indianas:
“Não tenha medo da morte, tenha medo do apego.”
Visões da Morte
Nos anos 70, houve uma actriz de Hollywood que morreu no apogeu da vida. Ela manifestou uma última vontade incomum: quis ser enterrada no seu Ferrari vermelho, novinho em folha. Assim, foi colocada ao volante do carro durante o serviço fúnebre. No final, quando os funcionários do cemitério estavam a empurrar lentamente o Ferrari para a cripta, ouviu-se um “murmúrio” em voz alta vindo da parte de trás da assistência:
“Tomara que ela esteja com a carta de motorista, porque é uma longa viagem!”
Embora a nossa tendência seja agarrarmo-nos tenazmente às nossas posses e relacionamentos, bem como ao resto da nossa existência terrestre, a morte, em si, não é algo a ser temido. Pelo contrário, é muito bonita. Numerosas pessoas na iminência de se irem desta para a próxima vida têm um vislumbre do glorioso mundo astral no qual entraremos após o desenlace. Podem ver um “ser de luz” radiante que vem para tranquilizá-las. Ou podem ver entes queridos que se foram antes, esperando sorridentes a saudá-las.
Um rapaz de 17 anos, em Seattle (EUA), estava a lutar contra a leucemia. Uma noite, encontrava-se tão mal que o médico e os parentes achavam que já não aguentaria mais. Cerca das duas horas da manhã, arregalou os olhos, sentou-se na cama e disse:
“Os anjos! Lindos, lindos os anjos!”
Afundou-se de novo nos travesseiros, voltou-se para os pais e implorou:
“Deixem-me ir. Por favor, deixem-me ir.”
Adormeceu e, logo depois, faleceu.
Muitas pesquisas científicas a respeito das “experiências de morte iminente” têm corroborado para dar à morte propriamente dita uma visão profundamente inspiradora. De facto, elas são tão comuns que os folhetos distribuídos pelo Hospice Movement nos Estados Unidos, dirigido às pessoas que estão a ajudar os seus parentes a morrer em paz, diz:
– “(o seu ente querido) pode dizer ou sustentar que falou com pessoas que já morreram, ver ou ter visto lugares que não sejam acessíveis actualmente ou visíveis para si. Isso não indica uma alucinação nem uma reacção aos remédios. A pessoa está a começar a afastar-se desta vida e a ser preparada para a transição de modo a não ficar apavorada. A respeito do que a pessoa sustente que viu ou ouviu, não a contradiga, não explique que não pode ser, não a deprecie nem argumente. Não é só porque não pode ver ou ouvir que a experiência deixa de ser verdadeira para o seu ente querido. Confirme a experiência dele ou dela. São experiências normais e comuns. Se elas assustarem o seu ente querido, explique-lhe que são coisas normais.”
O que sentimos na hora de partir
Num domingo, estava a fazer uma palestra a respeito da morte e, a seguir, fui cumprimentar as pessoas conforme iam deixando o templo. Um homem dirigiu-se a mim e disse:
“A minha esposa faleceu há pouco tempo. Era membro da sua igreja. Eu estava sentado ao lado de seu leito pouco antes de deixar o corpo. De repente, abriu os olhos e parecia estar a ver através de mim, referindo:
‘Oh! O Mestre está aqui! O Mestre está aqui!’
Então, os seus olhos concentraram-se em mim e murmurou:
‘Agora quero ir. O Mestre está à minha espera.’
Senti uma vibração de amor extraordinariamente grande no quarto. Jamais havia sentido um tão grande. Não vinha de nenhum ponto em particular, mas sim de todos em meu redor. Tive de vir aqui e descobrir o que ela esteve fazendo durante todos estes anos!”
O que vão sentir quando chegar a hora de partir? Do mesmo modo que em tudo na vida, as experiências de duas pessoas não são exactamente iguais. Mas, baseado no que descreveu Paramahansaji e no que narraram numerosas pessoas que tiveram a experiência de morte iminente, podemos elaborar o cenário que poderiam esperar:
– A consciência e a força vital começam a retirar-se do corpo pela coluna vertebral. Um por um, os cinco sentidos param de funcionar. O primeiro a desaparecer é o sentido do tacto, o que significa que qualquer dor física que se possa sentir desaparece. Então, à medida que a força vital sobe pela coluna vertebral em direcção à saída, as forças do corpo astral que activam os sentidos do olfacto, paladar e visão retiram-se; o último a desaparecer, diz o nosso guru, é o sentido da audição. Assim, no coma, não se está completamente inconsciente; pode-se ouvir o que se passa em seu torno. Finalmente, acontece o último suspiro. Há um ligeiro sentido de sufocamento quando os pulmões param. Contudo, o desconforto é muito rápido. Então, os olhos erguem-se para o centro crístico e a sensação de confinamento à prisão carnal desfaz-se.
Antes de completar a transição para o mundo astral, entretanto, há uma paragem no caminho. É quando acontece a revisão da vida, o “dia do juízo”:
– como um filme acelerado, todos os acontecimentos notáveis da sua vida passam diante da sua visão interior.
Talvez se surpreenda com o que vai ver:
– muitas coisas às quais dedicou tanto tempo e esforço – as conquistas e realizações que pensava significarem algo – não estão, necessariamente, entre o que importa nesta revisão da vida.
Em vez disso, acabam sendo as chamadas “coisinhas” aquelas que realmente importam:
– Quanto amou os demais? Cuidou deles? As suas acções foram generosas e benevolentes? Quanto amor cultivou por si mesmo? Esses sentimentos e consequentes condutas parecem ser mais significativos em retrospectiva porque são os mais vitais para Deus e a alma.
Contudo, essa revisão não é áspera ou crítica:
– ninguém o está a julgar, a não ser o próprio. Não sente medo, somente uma enorme paz e um indescritível bem-estar. E quando essa revisão se completa, há um amoroso senso de justiça – uma aceitação, por parte da sua alma, do que ela necessita para o próximo passo de seu desenvolvimento.
Surpresa: continua vivo
Então, realmente está a caminho. Tem consciência de correr ao longo de um túnel fracamente iluminado, talvez acompanhado pelo rugido majestoso das energias do corpo astral, à medida que a força vital e a consciência voam do corpo físico através do centro subtil (6ºchakra, atrás) no bulbo raquidiano. E, de súbito, está a passar por “riachos”, emergindo duma luz etérea e radiante. Acha-se na pura e eterna Primavera do mundo astral. Olha para si mesmo e vê que o seu corpo físico se foi – acabaram-se as rugas, as verrugas, os “pneus” à frente e atrás, as incapacidades! Experimenta um profundo sentimento de alívio e liberdade. Tem um corpo de luz e energia que não pesa. Em volta de si, expande-se um maravilhoso espaço vibrante – que é visto não pelos olhos físicos, mas pelo olho espiritual, na fronte, acabado de ser aberto, possibilitando-lhe perceber os domínios mais refinados. Encontra-se rodeado de entes queridos que reconhece instantaneamente, de relações que teve há muito, muito tempo. Começa a comunicar-se com essa família extensa, com os pensamentos e sentimentos transmitidos instantaneamente por meio da intuição; nunca imaginou que fosse possível semelhante intimidade.
E então surpreende-se:
“Então é isto a morte? Mas eu estou vivo! Tenho consciência e sentimentos.Relacionamentos e entes queridos. Estou consciente de um imenso reservatório de experiências.”
Percebe que ainda é o mesmo, que não existe morte, só uma transição da vida para uma existência maior.
Como o Senhor Krishna disse a Arjuna:
“O espírito jamais nasceu; jamais cessa de existir (…) permanece para sempre sem nascimento, nem morte, nem transformações; intangível para a morte, embora pareça morta a casa que habitou.”
Esta é a maravilhosa verdade a respeito da grande aventura da vida e morte:
– não temos de esperar por ela para descobrir que somos seres divinos imortais.
Falando do poder das técnicas espirituais da meditação iogue, Paramahansa Yogananda ensina:
“Quando transferem o centro da consciência, da percepção e do sentimento do corpo e da mente para a alma – o seu verdadeiro ser transcendental, que não morre – têm o domínio que o iogue possui da vida e da vitória sobre a morte.”
(*) Texto condensado de uma palestra proferida em Los Angeles. Republicado com permissão da Self–Realization–Fellowship.
Monge por mais de 25 anos nas comunidades monásticas desta entidade, fundada por Paramahansa Yogananda, o monge Satyananda proferiu inspiradoras e dinâmicas palestras nos Estados Unidos, Europa, América do Sul, Austrália e Nova Zelândia, a respeito da antiga filosofia do ioga e da sua imemorial ciência da meditação. Actualmente, é ministro religioso do templo da Self-Realization Fellowship em Fullerton, Califórnia. Mais informações a respeito dos ensinamentos espirituais universais de Paramahansa Yogananda podem ser obtidas por intermédio da Self-Realization Fellowship, 3880 San Rafael Avenue, Los Angeles, Califórnia, 90065-3298. Tel. 1 (323) 225-2471, Fax 1 (323) 225-5088, ou no website da sociedade: www.yogananda-srf.org ou www.yogananda.com.br
Fonte: Planeta web